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O que está pior, a economia ou a mídia?
Por Fábio Jammal Makhul, na Revista do Brasil
Não é improvável um espectador do telejornal noturno ter o sono perturbado com vozes soturnas de apresentadores e analistas. Pelo que se vê e se ouve, não se sabe o que aquele apresentador sério quer dizer com "boa noite". Afinal, a economia do Brasil pode estar à beira da bancarrota. Tampouco se perdoa o "bom dia" do apresentador da manhã, pois os jornais do dia também trarão o apocalipse. Não é para menos.A preocupação com a economia move o dia a dia das pessoas, inclusive as que dormem mais cedo que os jornais noturnos. Ninguém passa um único e escasso dia sem fazer contas. Foi entendendo a importância dessa ciência, nem sempre exata, que o estrategista James Carville, do Partido Democrata, eternizou a frase "é a economia, estúpido!" Pesquisas do Datafolha apuram o índice de confiança do brasileiro em relação ao país. Numa escala de 0 a 200, um levantamento feito no início de julho revelou que a expectativa da situação econômica pessoal é de 160 pontos, sendo um dos "aspectos para os quais os brasileiros demonstram um sentimento positivo acima da média", no relato do instituto. Já a expectativa da situação econômica do país¬ registrou 102 pontos em julho, alta de 6 pontos na comparação com maio. Os eleitores brasileiros também foram consultados sobre a situação econômica pessoal e 48% esperam que ela vá melhorar nos próximos meses. Outros 38% acreditam que ficará como está. O jornal ou o caixaO comerciante Mário Paixão da Silva, de 46 anos, tem uma pequena loja de roupas no centro do Recife (PE) há mais de 20 anos. E diz que basta conferir as vendas para saber se a economia está bem ou não. "Você acha que vou acreditar no jornal ou no meu caixa?", brinca, ainda comemorando as vendas que fez durante a Copa do Mundo. "A gente precisa ser criativo e se reinventar a cada dia. Durante a Copa, por exemplo, troquei as tradicionais roupas da vitrine por camisas da seleção ou por peças que privilegiassem o verde e o amarelo. Vendi muito, não posso reclamar. E, nos últimos meses, minhas vendas estão no mesmo patamar dos anos anteriores", diz.Mesma opinião tem a auxiliar de serviços gerais Vilma Silva de Lima, de 57 anos. O noticiário econômico não é algo que a perturbe, ou atraia. Moradora de um bairro pobre de Camaragibe, região metropolitana do Recife, Vilma diz que as principais preocupações são com a saúde pública e a segurança. "Aliás, nas próximas eleições, vou prestar atenção no que os candidatos vão dizer sobre esses problemas", afirma.Com a aproximação do pleito, a mídia tradicional começa a definir candidatos que querem ajudar ou atrapalhar. E, diferentemente de quase um quarto do eleitorado, parece não estar indecisa, analisa o jornalista e sociólogo Venício Artur de Lima, professor titular de Ciência Política e Comunicação da Universidade de Brasília (UnB). Ele analisa o comportamento midiático em eleições há três décadas e tem vários livros sobre o tema.Lima avalia que a profusão de informações parciais para privilegiar uns e prejudicar outros dá o tom. "Seguem a mesma conduta das eleições passadas, talvez de forma ainda mais exacerbada."O pesquisador pondera, porém, que o Brasil mudou e o eleitor está mais capacitado e dispõe de meios diversos de informação para decidir o voto. "Tenho uma visão diferente da que tinha quando comecei a estudar eleições, nos anos 80. As pessoas buscam muito mais informação fora do esquema da grande mídia. É claro que a TV aberta continua sendo a principal fonte de informação, mas as fontes alternativas têm peso muito grande desde 2006", avalia. Isso não significa, observa Lima, que a mídia convencional não seja importante para influenciar comportamentos em longo prazo. "A percepção das pessoas sobre corrupção e a estigmatização dos partidos ainda é influenciada pela mídia, mas no comportamento eleitoral em si, o peso do que é publicado nos principais jornais, na TV e no rádio diminuiu, graças a meios que antes não existiam", comenta.Pessimismo militanteUsar o jornalismo econômico para fazer política no Brasil é uma estratégia que tem sido bastante criticada por Luis Nassif, jornalista econômico com 45 anos de experiência e organizador do portal GGN. Para ele, há muitas críticas à condução da política econômica do governo federal e vulnerabilidades que precisam ser enfrentadas - especialmente o desequilíbrio nas contas externas do país. "Mas nada que, nem de longe, se pareça com o quadro pintado nos grandes veículos. Aumentos de meio ponto percentual ao ano nos índices inflacionários são tratados como prenúncio de hiperinflação; acomodamento das vendas do varejo, em níveis elevados, como prenúncio de recessão", comenta. O que ele chama de "pessimismo militante" compromete a crítica necessária sobre os pontos efetivamente vulneráveis da política econômica e do processo de desenvolvimento do Brasil. "Há uma guerra política inaugurada em 2005, que sacrifica a notícia no altar das disputas partidárias. É evidente que há muito a melhorar no ambiente e na política econômica, mas quem está em crise exposta, hoje em dia, é certo tipo de jornalismo que acabou subordinando os fatos a disputas menores." O fotógrafo Alexandre Lombardi, de 38 anos, não gosta de generalizar uma má conduta da mídia. Ele não duvida que todo veículo favoreça um lado e prejudique outro. Lê os jornais tradicionais, procura na internet por blogs, fóruns de discussão e mídias sociais com pensamentos diferentes, mas desconfia à esquerda e à direita, e procura consistência:"Gosto da pluralidade de pensamentos", conta Alexandre, que mora em Sorocaba, interior paulista. "A internet deixou tudo muito fácil. É possível comparar versões. Analiso, converso com os amigos e formo a minha própria opinião. Não tiro conclusões baseadas em uma única fonte", explica. Ele ainda não definiu candidatos para a próxima eleição, mas levará em conta as¬ propostas, inclusive para a economia.Transmitir confiança, credibilidade e consistência, com propostas claras, será o melhor meio de ganhar o voto do eleitor em outubro. Quem afirma é o publicitário Renato Meirelles, sócio-diretor do instituto Data Popular - empresa de pesquisa especializada no conhecimento das classes C e D, onde se concentra a maioria dos brasileiros. "O que vai decidir o voto é a capacidade das candidaturas de entender os problemas reais que o eleitor enfrenta e de oferecer perspectivas de futuro", observa.Para Meirelles, será, antes de tudo, uma eleição sobre o futuro e não de legado. "Os eleitores estão mais preocupados em saber o que vai levar o Brasil adiante e não o que trouxe o país até aqui. Isso -coloca a discussão em outro patamar. Os candidatos devem fazer uma campanha muito mais propositiva em vez de ficar falando do passado", explica. A queda na credibilidade da mídia, as novas tecnologias da informação e a recente ascensão social no Brasil criaram um novo formador de opinião que terá peso nestas eleições. Trata-se do jovem da classe C. "Esses jovens estudaram mais que os pais, estão mais conectados, contribuem mais com a renda familiar do que o jovem da elite. Ele é provedor de conteúdo em casa e sua opinião vai ajudar a definir o voto da família", afirma Meirelles.
A distribuição de renda em Absurdil somente podia ser comparada à de certo país sul-americano, pois, dos seus 1010 habitantes, 1000 ganhavam RL$10,00/ano, cada; enquanto os 10 privilegiados cidadãos faturavam RL$10.000,00 anuais, cada. A renda bruta da população era, portanto, RL$110.000,00 anuais. Em cima disso, os cofres públicos de Absurdil arrecadavam RL$22.000,00 por ano, deixando para a população RL$88.000,00. Assim, a renda per capita líquida dos absurdileiros era de RL$87,12. Este era o quadro macroeconômico de Absurdil, e assim vivia seu povo, numa tranqüila e eterna infelicidade.
Um dia a população rebelou-se e colocou outro presidente no poder. Já nos primeiros momentos, o novo mandatário e seu gabinete ministerial trataram de acelerar o PIB que, há muitos anos, andava em baixa. O presidente correu mundo para vender os produtos absurdileiros no exterior. Conquistou mercados que nunca haviam sido bem explorados pelos governos anteriores. Incentivou a qualificação da mão-de-obra local e promoveu melhores condições de trabalho, além de apoiar o empresariado, combatendo o contrabando, estimulando pesquisas científicas e melhorando a qualidade dos seus produtos. Esses foram alguns dos fatores que impulsionaram a economia de Absurdil. Foi tudo muito surpreendente, em pouco tempo, o país apresentou resultados estatísticos que assombravam os descontentes: superavit astronômico! Risco Absurdil despencando; era o mundo passando a acreditar e respeitar aquela ex-republiqueta casa-de-mãe-joana.
Chegada a hora, o novo governo, que havia prometido mudanças na área econômica e social do país, tomou as primeiras decisões: a partir daquele momento, os absurdileiro mais pobres passaram a ganhar RL$11,00 por ano, e, igualmente, foram aumentadas as rendas de cada um dos 10 privilegiados para RL$11.000,00 anuais. No entanto, a taxa de IR de Absurdil foi modificada: os menos favorecidos passariam a pagar 15% de IR e os privilegiados 30%. No primeiro ano de governo, a renda bruta da população bateu recorde:RL$121.000,00. Descontados RL$ 1.650,00 da renda total de RL$11.000,00 da camada mais desgraçada, e RL$33.000,00 dos privilegiados que ganhavam juntos RL$110.000,00 por ano, a população em geral ficou com RL$86.350,00, o que representou uma renda per capita de RL$85,49.
Entretanto os miseráveis ficaram menos miseráveis, passando a receber RL$9,35 líquidos por ano, quando recebiam RL$8,00, e os privilegiados continuaram com seus privilégios, só que um pouco menores, bobagem: RL$7.700,00 líquidos anuais, cada, contra os RL$8.000,00 que ganhavam no governo anterior. Mesmo começando a recuperar suas "perdas" com o aumento da produção e das novas oportunidades, os privilegiados chiaram. E chiaram muito!! Queriam o poder de volta. Precisavam convencer a população de que aquilo tudo era ruim para ela. Foi aí que tiveram uma brilhante idéia: pegaram as estatísticas do ano anterior e extraíram aquele item que indicava "queda" na renda per capita, em relação àquele período. Com esse suposto paradoxo econômico, os privilegiados gritaram veementemente para os absurdileiros mais pobres:
- Vocês foram enganados!!! A renda per capita caiu de RL$87,13 para RL$85,49.
Moral da história recente de Absurdil: Os números não mentem; quem mente são os numerólogos quando mexem nos seus numerários.Obrigado por visitar minha loja online! Encontre o que você está procurando para si ou para grandes presentes para seus amigos. Você vai encontrar a mercadoria original com a minha arte em t-shirt, camisolas, canecas, etiquetas, e muito mais.
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Mais flashback...
O que está pior, a economia ou a mídia?
23/08/2014
Era 1992, e com esse aprendizado Bill Clinton superaria o favoritismo do republicano George Bush, o pai, demonstrando sintonia com as angústias cotidianas dos norte-americanos nesse quesito. Eis o segredo do homem que faria história no Salão Oval da Casa Branca pelos próximos oito anos: saber o que, com quem e por que estava falando.O noticiário econômico cumpre vários objetivos. Um deles, saciar os humores do mercado financeiro, servir de ponte para suscitar apostas nos cassinos da especulação, detectar (ou criar) o clima do ambiente eleitoral, entre outros, inclusive informar de vez em quando. Porém, pelo que algumas pesquisas têm demonstrado, a opinião pública talvez não veja a economia do Brasil como a veem os especialistas.
E apenas 12%, que vai piorar. Pela pesquisa, pode-se constatar que há um grande descompasso entre o sentimento positivo do brasileiro com relação à economia e o cenário catastrófico divulgado pela mídia tradicional.
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(Re)leia também...
Renda per capita de Absurdil
Fernando Soares Campos Brasil, janeiro de 2005
Absurdil era uma republiqueta perdida entre o Atlântico e o Pacífico, lá todos os cidadãos pagavam a mesma taxa de imposto, não importava se o sujeito ganhava uma relíquia (RL$, a moeda corrente de Absurdil) ou mil relíquias, a taxa de imposto era a mesma: 20%.
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Mais flashback...
Salta um Dry Martini e um Big Mac pra tira-gosto!
14 de agosto de 2014
GM planeja investir R$ 6,5 bi em fábricas no Brasil até 2018
Após reunião com Dilma, montadora não revela unidades beneficiadas; metalúrgicos querem prioridade para São José
Folhapress/redação
A CEO global da General Motors, Mary Teresa Barra, anunciou ontem investimento de R$ 6,5 bilhões nos próximos cinco anos no Brasil. O comunicado foi feito após reunião com a presidente Dilma Rousseff (PT) no Palácio do Planalto.
Barra afirmou não detalhou onde os recursos serão alocados no país por questão de estratégia comercial, mas disse que eles serão usados para o desenvolvimento de novos produtos, melhoria dos produtos já existentes e manutenção das instalações da empresa no país.
Questionada sobre o péssimo cenário que a indústria automobilística tem enfrentado, Barra respondeu que a relação da GM com o Brasil tem quase 90 anos e continuará sendo planejada a longo prazo.
"Estamos no Brasil há quase 90 anos e este é um importante mercado", disse.
Em nota, a GM informou que o aporte R$ 6,5 bilhões será destinado ao desenvolvimento de novos produtos e tecnologias e na formação de empregados, além da ampliação do índice de nacionalização de componentes.
"Este investimento permitirá à marca Chevrolet continuar a renovação de sua linha de automóveis com foco em tecnologia e qualidade. Outro propósito é o de elevar o percentual de nacionalização dos componentes dos carros feitos no Brasil", disse Jaime Ardila, presidente da GM América do Sul.
[Mas, como diria Miriam Leitão, a rainha das conjunções adversativas, porém, no entanto, entretanto, contudo dentro...]
Crise. A indústria automotiva no Brasil vive um período de crise. A produção de veículos caiu 20,5% em julho, em relação ao mesmo período de 2013, e somou 252,6 mil automóveis. Foi o pior resultado para o mês desde 2006.
Com a produção em queda, a GM pressiona o Sindicato dos Metalúrgicos a aceitar o lay-off na fábrica de São José (leia nesta página).
[Para ler completo, clique no título]
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Ilustração: AIPC – Atrocious International Piracy of Cartoons
Ilustração: AIPC – Atrocious International Piracy of Cartoons
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PressAA
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